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Felipe Bittencourt, sócio-fundador e CEO da WayCarbon, comenta o renascimento do mercado de créditos de carbono

Em 2021, o crédito de carbono valorizou mais de 140%. Neste episódio, Felipe Bittencourt, CEO da WayCarbon, explica como funciona esse mercado e as vantagens do investimento em um mundo cada vez mais ESG.

Por Equipe Empiricus

13 jan 2022, 15:28 - atualizado em 02 fev 2022, 14:57

A necessidade de conter os efeitos das mudanças climáticas pede medidas urgentes. Alinhado a esta busca, os investidores e consumidores pressionam empresas e órgãos governamentais para o desenvolvimento de projetos sustentáveis que busquem diminuir a emissão de poluentes. O mercado mundial de créditos de carbono vem ressurgindo após anos de colapso entre 2013 e 2020, quando foi pressionado pela crise econômica na Europa, além do fim da bolha imobiliária americana.

O renascimento desse mercado não se restringe apenas a boas intenções e belos discursos. O dinheiro que circula por ele cresce exponencialmente. Apenas no ano passado, o volume de créditos de carbono negociados no mercado voluntário global (uma das modalidades de mercado) dobrou. Para todos os fins, um crédito de carbono corresponde a uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) que deixou de ser emitido ou que foi retirado da atmosfera. “Já percebemos, no dia a dia, que o preço dos créditos de carbono está subindo”, afirma Felipe Bittencourt, sócio-fundador e CEO da WayCarbon, empresa especializada no desenvolvimento de projetos nessa área.

Com uma experiência de 20 anos nesse mercado, Bittencourt participou da edição desta terça-feira (12/01) do RadioCash, podcast da Empiricus Research e da Vitreo. Essa trajetória lhe permite ser um observador privilegiado da própria mudança de postura das empresas em relação aos temas ambientais e climáticos. “Quando comecei, havia a percepção de que a mudança climática era um problema do futuro. Hoje, já percebemos isso no dia a dia, com eventos extremos, como as inundações dramáticas na Bahia e a forte seca no Rio Grande do Sul”, diz.

Além das consequências sociais, esses eventos extremos pesam, e muito, no bolso de todos. “O mundo já sofre bilhões de dólares de perdas econômicas, todo ano, devido às mudanças climáticas”, lembra Bittencourt. Não é por acaso, portanto, que o setor financeiro seja um dos que mais pressionam empresas e governos a adotarem novas práticas. Cada vez mais, os investidores se debruçam sobre a agenda ambiental, a fim de quantificar os potenciais riscos climáticos e ambientais dos projetos que financiam. “Eles esperam que as empresas tenham ações de ESG alinhadas aos desafios que o mundo precisa cumprir”, diz, referindo-se à meta lançada pelo Acordo de Paris, em 2015, de restringir o aquecimento global a 2 graus Celsius neste século, com esforços para que seja ainda menor. “A empresa que não está alinhada a isso acaba penalizada pelos investidores”, completa.

Bittencourt sublinha que a pressão sobre os agentes econômicos será cada vez maior. Isto porque, mesmo com todos os compromissos anunciados na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 26), realizada em agosto do ano passado em Glasgow, os especialistas estimam que estamos longe de alcançar o teto de 2 graus Celsius de aquecimento. “Os países serão desafiados, ano após ano, a aumentar suas metas para que o mundo, como um todo, esteja em linha com aquele limite”, diz. 

É neste ponto que o mercado de créditos de carbono desempenhará um papel fundamental. Criar incentivos econômicos para que as empresas e governos adotem práticas ambientalmente mais saudáveis, reduzindo a emissão de gases de efeito-estufa, como o metano e o dióxido de carbono, ou que retirem do ar esses poluentes, é uma estratégia em que todos ganham – inclusive, financeiramente. Bittencourt lembra que, em 2009, a WayCarbon chegou a negociar cada crédito de carbono por 23 euros por tonelada. Com a crise da Europa, nos anos seguintes, a cotação caiu para a casa dos centavos de euro.

Agora, contudo, o mercado de carbono vive uma retomada, estimulado pelo Acordo de Paris, a pressão de investidores internacionais e a adesão crescente das empresas. Além do mercado global, regulado pela Organização das Nações Unidas (ONU), há 64 mercados regionais ou nacionais em que é possível comprar e vender créditos de carbono. Os países ricos não são os únicos a participarem. Nações com um PIB intermediário, ou até mesmo pequeno, como México, Colômbia e Cazaquistão, já implantaram mercados nacionais regulados. Diante do pouco interesse do atual governo pelo tema, a estruturação do mercado brasileiro anda devagar. Enquanto ele não é criado, as empresas recorrem a outros mercados para negociarem seus créditos. “O mercado voluntário vem crescendo, e mais do que duplicou de tamanho, de um ano para outro, em volume comercializado”, afirma Bittencourt. 

O CEO da WayCarbon não tem dúvidas de que, se se engajar nesse movimento, o Brasil terá todas as condições de liderá-lo. A razão é que, para cumprir a meta do Acordo de Paris, companhias e governos não poderão se contentar apenas com projetos de redução de emissões; terão que aumentar os investimentos em projetos de retirada de carbono da atmosfera. Essa remoção é possível com projetos de reflorestamento, por exemplo, e o Brasil tem tudo para receber boa parte desse dinheiro. “Veremos, nos próximos 5 anos, muitos recursos financeiros para o Brasil, como o celeiro de créditos de redução de carbono. Serão bilhões de dólares voltados para a restauração florestal”, anima-se.

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