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Rodrigo Zeidan, professor da New York University Shanghai, comenta a economia chinesa e destaca o país como símbolo do capitalismo
Em entrevista ao podcast RadioCash, Rodrigo Zeidan discorre sobre a economia chinesa e a competição mortal por dinheiro que é vista no país. Zeidan também comentou o controle da pandemia no país e a postura da população em relação ao vírus.
* Por Carolina Gama
No episódio 51 do RadioCash, Rodrigo Zeidan, professor da New York University Shanghai e doutor em economia pela UFRJ, comentou as questões econômicas e governamentais da segunda maior economia do mundo.
Participando do podcast RadioCash com Jojo Wachsmann, sócio-fundador da Vitreo, e com a jornalista Roberta Scrivano, ele conta que todo o emprego gerado na economia chinesa veio do setor privado nos últimos 30 anos, quando as reformas das estatais no país entraram em curso.
“Aqui temos o capitalismo mais capitalista que eu já vi. As pessoas pensam o tempo todo em uma forma de ganhar dinheiro e, por isso, a competição é mortal. Os chineses pensam na concorrência e em como se livrar dela. Esse é o capitalismo chinês, de concorrência ininterrupta”, afirmou.
O professor lembra, no entanto, que quando essa competição pode oferecer risco sistêmico, o governo aparece. “Quando esbarra em risco sistêmico a brincadeira acaba, como no caso da Evergrande, que se endividou até não poder mais e até time de futebol comprou”, disse.
O comunismo acabou?
A definição básica de comunismo é o Estado deter os meios de produção, mas não é assim que as coisas acontecem na China de hoje. Segundo Zeidan, o peso das estatais na China é bem menor do que em países como a Dinamarca e o próprio Brasil.
“O estado detém algumas empresas, bem ruins. Em termos de meio de produção é tudo privado. Temos bilionários na China, algo que não existiria no comunismo. É claro que se o governo quiser, pode fechar a empresa desses bilionários, mas isso também pode acontecer no Brasil, basta uma regulação”, afirmou.
O professor destaca a diferença do discurso comunista na sociedade. “Temos 5 mil anos de história na China e as pessoas nunca se sentiram representadas. Então ter mais um governo no qual ninguém te representa, não é um problema”, disse.
Ele lembra do discurso do atual governo, comandado por Xi Jinping, no qual o apelo é “decisões tomadas pelo bem de todos”. “Com a covid zero no país, o governo não só pode dizer isso como consegue provar.”
Zeidan cita ainda as normas sociais na China que, segundo ele, são completamente diferentes do Ocidente e volta a mencionar a covid-19 como exemplo.
“O vírus é inaceitável para as pessoas. Os chineses estão dispostos a fazer quase qualquer sacrifício para não pegar o vírus. Não importa se o vírus se enfraqueceu ou se eles estão vacinados. Isso tem a ver com norma cultural. É assim que as pessoas agem, quer o governo queira, quer não”, disse.
O potencial chinês de expansão
Ocupando o segundo lugar no ranking das maiores economias do mundo, ninguém duvida do potencial de expansão da China nos próximos anos.
O governo tem trabalhado para isso, com planos de crescimento baseados em uma economia mais limpa e diversificada, menos dependente do estado e mais aberta ao exterior.
“A renda média de um cidadão chinês hoje é de US$ 10 mil ao ano, muito parecida com a de um brasileiro. Se o PIB chinês dobrar, a renda do chinês médio vai a US$ 20 mil, ou dois terços da renda de um português”, disse.
E Zeidan continua: “Para chegarmos na renda de um português, o PIB chinês precisa triplicar. Você consegue imaginar o efeito global disso? Essa é a verdadeira oportunidade”.
O professor lembra que apesar do cenário promissor, a tendência de longo prazo da China existe, porém, em um caminho bastante volátil diante das intervenções do governo.
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Equipe Empiricus