O Brasil chegou a 5 milhões de contas de pessoas físicas abertas em corretoras para investir em renda variável. Enquanto o número de CPFs únicos de investidores na Bolsa avançou para 4,2 milhões.
“É uma evolução muito notável. A pessoa física ganha participação vagarosamente ao passo que o mercado de capitais brasileiro se desenvolve, cresce e amadurece”, afirma Matheus Spiess, analista financeiro da Empiricus.
No entanto, ele salienta que o mercado brasileiro ainda está engatinhando quando comparado a outros países mais desenvolvidos como os Estados Unidos e alguns países europeus, embora reconheça que seja uma marca muito significativa alcançada.
Segundo Spiess, os brasileiros estão gradualmente caminhando para posições em ativos de risco mais notáveis do que a tradicional renda fixa. Em termos reais, a pessoa física já representa 17% do total de equities da B3, totalizando cerca de R$ 500 bilhões em aplicações.
Em relação à dimensão do crescimento no número de investidores na Bolsa nos últimos anos, tem-se que, de 2018 até 2022, o aumento foi de 403%, partindo de 835 mil para 4.2 milhões de pessoas. “Isso ainda é aquém do que temos em renda fixa”, destaca Spiess, visto que há 10 milhões de brasileiros com recursos alocados nessa classe de ativos.
Queda dos juros, financial deepening e bull market: motivos que levaram a essa marca
No intuito de compreender as razões que levaram o Brasil ao alcance de tal marca, vale considerar alguns pontos levantados por Spiess. O primeiro deles foi a queda dos juros “Na pandemia, a taxa de juros chegou a 2%, a mínima histórica. A consequência disso é que a renda fixa deixou de render tanto quanto anteriormente, forçando os investidores pessoa física a migrarem para a Bolsa”, comenta o analista.
Outro fator a ser considerado é o “financial depening”, ou aprofundamento financeiro. “Houve uma grande democratização e aplicação de tecnologia no mercado financeiro brasileiro, em grande parte porque as corretoras possibilitaram que houvesse um market place ou um supermercado de produtos financeiros”, afirma o analista.
Segundo ele, houve um ambiente propício para a sofisticação financeira do brasileiro. Dentre esses produtos, há fundos de investimento, investimentos internacionais, investimentos em ações, fundos imobiliários, entre outros.
Além disso, a queda na taxa de juros que se originou em 2016 possibilitou um grande bull market que atraiu investidores até que a pandemia tivesse início. Em 2020, houve o choque pandêmico no mundo inteiro, sucedido por uma recuperação econômica gradual que ganhou força no segundo semestre de 2021.
“Queda dos juros, aprofundamento financeiro, as pessoas migram para outros produtos e forma-se um ambiente propício para que esses produtos cheguem de maneira bastante democrática para diferentes pessoas e diferentes perfis”, comenta Spiess.
O curto-prazismo do novo investidor
Os fatores citados acima tiveram algumas consequências que também se mostraram importantes no contexto do mercado. “É natural que haja uma certa imaturidade no investidor e, com isso, uma maior volatilidade”. Fatores como a ansiedade e a pressa pela obtenção de recursos em grande quantidade levam o investidor a tomar más decisões.
Esse processo de compra e venda muito rápida de produtos é denominado de “curto-prazismo” por Spiess.
“Ao passo que as pessoas vão se familiarizando, o mercado vai se modernizando e se tornando mais eficiente”, explica o analista sobre o conceito de curva de aprendizado.
Desaceleração do crescimento? O que se pode esperar do futuro
Tendo em vista as causas e consequências dessa marca de 5 milhões de contas investidoras que o Brasil alcançou, vale também trazer à tona algumas projeções futuras. Embora essa marca tenha sido atingida no mês de fevereiro, Spiess explica que desde o ano passado as pessoas físicas têm se mostrado apreensivas em relação ao investimento na Bolsa.
“O segundo semestre de 2021 foi muito ruim para ativos brasileiros, se descolando da performance internacional”, explica.
Tal fato se deve, entre outros motivos, a ruídos fiscais, à antecipação de temor eleitoral, a ruídos políticos e à má precificação de reformas. Ainda sobre este período, o analista comenta: “Do ponto máximo, que foi de 130 mil pontos, até a mínima, nós caímos mais de 20%, o que caracterizaria um bear market técnico em reais”.
Um fator que está associado a isso é a alta do juros visando combater a inflação. “Isso joga a economia na recessão, prejudica os resultados, machuca a Bolsa e as pessoas físicas novas se assustam e saem”.
Pensando no futuro, Spiess afirma que o processo de enraizamento financeiro e de modernização do mercado de capitais no Brasil é irreversível, contudo, pode sofrer um arrefecimento. O analista cita como exemplo disso que, em 2022, a alta da bolsa brasileira foi, em grande parte, potencializada pelo investidor estrangeiro, que vê no País a possibilidade de comprar mais ativos por um valor baixo.
“Olhando para frente, deve haver um arrefecimento desse processo, mas grandes oportunidades, porque, em um segundo momento, essa porta que foi aberta vai voltar a ver fluxo de pessoas físicas para a Bolsa”, conclui Spiess, destacando também o processo positivo de contínuo aprendizado e amadurecimento dos investidores ao longo do tempo.
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