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Vale a pena investir os recursos do FGTS na Eletrobras (ELET6)?
O analista Ruy Hungria explica quais as vantagens e desvantagens de realizar esse investimento; confira
A Eletrobras (ELET6, ELET3) é a maior companhia elétrica do Brasil, representando cerca de 30% de toda geração de energia elétrica e 40% de todos os ativos de transmissão do país.
Em novo vídeo, o analista Ruy Hungria avalia se é interessante alocar parte do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) em ações da empresa.
Uma breve contextualização: entenda a trajetória da Eletrobras
Entre 2012 e 2015, a companhia possuía 6 distribuidoras e aproximadamente 170 SPEs (sociedades de propósitos específicos).
Segundo Hungria, o problema é que essas distribuidoras eram muito deficitárias, gerando grandes prejuízos. Da mesma forma, muitas das SPEs também não traziam resultados positivos.
Somado a esses resultados ruins, surgiu a MP 579, um artifício do governo que visava fazer com que o preço da energia caísse.
Essa medida trouxe danos para companhias como a Eletrobras, que teve cerca de 30% de queda na receita de geração e transmissão, colocando-a em um cenário de crise.
Nesse contexto, a empresa chegou a atingir uma alavancagem de 8,7x Dívida Líquida/Ebitda, que é, segundo Hungria, um patamar absurdo.
O prejuízo acumulado, por sua vez, foi de R$ 31 bilhões no período. “Foi uma situação muito grave, que só melhorou quando Wilson Ferreira Jr. assumiu a companhia”, ressalta o analista.
Quando a Eletrobras passou a ser coordenada por Ferreira, esta passou por uma grande limpeza. Muitas das SPEs foram vendidas, bem como as distribuidoras, e o quadro de funcionários reduziu drasticamente.
Então, a empresa voltou a registrar lucros, diminuindo a alavancagem para menos de 2x Dívida Líquida/Ebitda e eliminando uma série de problemas que a assolavam previamente.
Ainda pode ficar melhor: veja como
Ruy destaca algo que, segundo sua visão, poderia ser algo muito positivo para os rumos da empresa: a privatização.
Com o dinheiro de uma possível privatização, no entanto, a Eletrobras poderá recomprar os direitos de vender energia a preço de mercado, contribuindo muito para a receita, segundo o analista.
Além disso, a privatização também conferiria à empresa maior agilidade na tomada de decisões estratégicas, ajustes no quadro de funcionários e realização de novos investimentos.
Tudo isso permitiria que a companhia tivesse um retorno maior a médio e longo prazo.
“A Eletrobras já melhorou muito desde meados da década passada, mas ainda pode ficar muito melhor”, constata Ruy.
Privatização: como se daria o processo de transformação da empresa
Ruy explica que o primeiro passo é a empresa fazer uma emissão primária de ações, isto é, vender ações no mercado.
Então, os novos investidores vão alocar recursos na companhia e vão diluir a participação da União, que vai passar de 72% (hoje) para 45%.
Com isso, a União deixa de possuir a maioria das ações e a companhia torna-se propriamente privatizada, muito mais ágil para tocar seus investimentos e planos estratégicos, conforme avaliação do analista.
A empresa também passaria a ter os recursos necessários para fazer a descotização, isto é, comprar os direitos de vender energia a preço de mercado.
“Isso vai configurar uma mudança muito relevante em termos de resultado para a companhia”, conclui Ruy.
Valuation
Hoje, a Eletrobras negocia a patamares muito mais baixos do que as companhias do que as outras maiores companhias do setor.
Duas delas, a Engie (ENGIE3) e a CPFL (CPFE3) são exemplos disso. Apesar do preço/lucro parecido, o preço/valor patrimonial na Eletrobras é muito mais baixo, assim como o ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido).
“Isso significa que se a companhia conseguir realmente colocar essa agenda da privatização em prática, melhorando a agilidade, a eficiência e a receita com a descotização, podemos esperar que ela se aproxime dos múltiplos desses pares”, enfatiza Ruy.
Mas e o FGTS: investir ou não investir em ELET6?
Dito tudo isso, considerando que o dinheiro do FGTS rende a TR + 3%, e a TR hoje é 0, a expectativa é que, a longo prazo, seja vista uma valorização da Eletrobras maior do que essa taxa.
Por isso, Ruy afirma: “Faz sentido, sim, você colocar seu dinheiro do FGTS nesses recursos”.
Mas ele faz uma ressalva importante associada à diversificação: “É importante ter em mente que não é adequado investir todo o 50% do FGTS em Eletrobras, mas sim uma parte”.
Ele reforça, ainda, que se trata de um projeto de longo prazo. “Todos esses fatores mencionados não vão acontecer do dia para a noite, e dependem de uma série de mudanças que levam tempo”, destaca.
Ele conclui: “A expectativa é que o retorno seja sim mais positivo do que o extraído no FGTS”.
Sobre o autor
Melissa Bumaschny Charchat